The objective of this study is to explore questions referring to the organization of the psychological functions as postulated by C. G. Jung, in particular that which concerns the inferior introverted sensation function and its opposite, superior extroverted intuition.

Tipologia Junguiana Correlações entre a função inferior e o sintoma corpóreo: um estudo sobre a função sensação inferior introvertida

Paulo S. Ruby (M psy)

Resumo da Dissertação de Mestrado apresentada na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob orientação da Dra. Denise G. Ramos


Abstract

The objective of this study is to explore questions referring to the organization of the psychological functions as postulated by C. G. Jung, in particular that which concerns the inferior introverted sensation function and its opposite, superior extroverted intuition.

Whenever the inferior introverted sensation function is unconsciously organized as well as repressed, it may become associated with the shadow and manifest as a complex.

The chances of this appearing as a negative bodily psychosomatic symptom may increase when the dissociation of consciousness reaches extreme proportions and is marked by loss of contact with the instinct, thus limiting the flow of psyche energy between the ego and the self. When this occurs, the conscious realization of the symbol may be affected as well as the perception of physical sensation, thus encouraging pre-psychological and somatic manifestations.

The inferior sensation function may be positively reactivated by means of psychotherapy transference, by the practice of active imagination, from the experience of dreams and by the effort and attitude of the ego in recognizing and discriminating the range of bodily sensations by means of concrete activities such as physical exercise, contact with nature and awareness of the senses.

Resumo

Este estudo visa explorar as questões referentes à organização das funções psicológicas levantadas por C. G. Jung, especialmente no que concerne à função inferior sensação introvertida e sua contra parte, a função superior intuição extrovertida. Quando a função sensação inferior introvertida se estrutura de forma inconsciente e reprimida, ela pode se associar à sombra e se configurar como um complexo. A probabilidade dela se manifestar de forma negativa no corpo, através de sintomas psicossomáticos, pode aumentar na medida em que a dissociação da consciência se instale como um conflito extremado, caracterizando-se como a perda do contato com o instinto e limitando a manifestação do fluxo de energia psíquica entre o self e o ego. Frente a esta situação, a realização do símbolo pode ficar comprometida e a percepção das sensações corpóreas alterada, o que propicia espaço para os sintomas se manifestarem de forma pré-psicológica e somática.

A reconstituição da manifestação positiva da função sensação inferior na consciência, pode se dar na psicoterapia através da relação transferencial, da pratica da imaginação ativa, da experiência com os sonhos e do esforço do ego em reconhecer e discriminar o campo da percepção das sensações corpóreas. Isso pode se dar através de atitudes que englobem atividades concretas tais como os exercícios físicos, o contato com os elementos da natureza e a percepção dos sentidos.

Meu ponto de partida é a experiência clínica dentro do modelo junguiano. Durante anos venho observando e vivenciando no consultório a questão existencial do ser humano.

Como cada indivíduo se organiza frente ao mundo e frente a si mesmo? Como cada indivíduo percebe e interpreta suas experiências? Porque certos indivíduos encontram sentido numa forma de ser no mundo enquanto outros, por mais que tentem, sofrem desencontros e sintomas de toda ordem?

Todas essas questões sempre estiveram e estão presentes no meu cotidiano de psicoterapeuta. Geralmente as pessoas que vêm ao consultório são movidas por um sentimento de derrota, um sintoma corpóreo, um sofrimento. Vêm em busca de um sentido, em busca de algo.

Acredito que toda essa situação tem a ver com a forma de ser no mundo, uma visão de mundo. Percebo que existe uma diversidade no gênero humano e, em linhas gerais pode-se encontrar determinados padrões ou grupos de comportamentos similares constituindo assim, uma possibilidade de classificação aproximada. Alguns indivíduos estão mais voltados para os estímulos externos enquanto outros se encontram mais fechados em si mesmos. Os primeiros são conhecidos pela psicologia junguiana como extrovertidos e os segundos como introvertidos. Obviamente que estes termos vão além do senso comum. Além dessas atitudes, os indivíduos se organizam através de funções psicológicas. Alguns são mais perceptivos e privilegiam a experiência enquanto outros são mais racionais e privilegiam a interpretação e a explicação racional. Uma forma de ser no mundo se torna mais típica numa pessoa aparecendo predominantemente em suas ações. Essa característica de personalidade é conhecida como um tipo psicológico onde um padrão de comportamento se apresenta de forma mais ou menos constante, típica.

A energia que move uma pessoa no mundo se organiza dentro de sua melhor atuação. Quando fazemos algo, procuramos realizá-lo por um caminho que seja o mais simples, fácil, aquele com o qual nos damos melhor, no intuito de minimizar possibilidades de fracassos e frustrações. Nos momentos das dificuldades, contornamos, escondemos, esquecemos e rejeitamos aquilo que não damos conta. Privilegiamos o nosso melhor em detrimento do nosso pior. Somos superiores em alguma coisa enquanto em outras somos inferiores. Na medida em que a vida flui e funciona de forma satisfatória, não sentimos a necessidade de mudar. O problema surge quando a forma de ser não funciona e não dá conta de responder às questões emergentes. As atitudes habituais já não servem para a solução de problemas.

Nesse momento uma crise se instala e partes de nosso ser, que antes não eram requisitadas, passam a ser chamadas na arena da vida empurrando-nos a desenvolver outras formas de ser no mundo para dar conta das novas situações. Aquela parte da personalidade que ficou subdesenvolvida precisa ser utilizada para que haja uma apreensão da realidade de forma mais adequada. Essa parte inferior pode ter as ferramentas £teis para manejar as dificuldades que nos importunam. Os contos de fadas nos dão excelentes exemplos dessa trajetória, onde o velho aleijado, o sapo, o mendigo (como figuras da sombra) pedem comida e se tornam os guardiões ou ajudantes do herói. Começa um caminho de desenvolvimento.

Para onde e para quê?

Antes de continuar é necessário alguns esclarecimentos.

A psicologia analítica pressupõe dois centros que se interrelacionam. Um é o centro da consciência que é conhecido como o complexo do ego e o outro, o centro do inconsciente, o self. Ambos mantém uma relação bipolar compensatória conhecida como eixo ego-self. A construção da consciência se dá na medida em que o self se desdobra polarizando e formando os dois centros. A consciência recebe o fluxo vital do inconsciente transformando instinto em imagem e o processo civilizatório como um todo obedece a esse movimento. Podemos chamá-lo também de humanização dos instintos.

Na construção da consciência, parte do indivíduo puramente natural e instintivo necessita ser sacrificada. Nesse sacrifício, zonas obscuras e sombrias são constituídas, isto é, o animal é suprimido em favor do humano, formando assim, as funções inferiores (a sombra e o inconsciente) em contraposição às superiores (a consciência e a persona) resultando num espaço de tensões e antinomias. Mais tarde, com a metanóia, essa configuração passa por mudanças onde as partes reprimidas forçam sua entrada na economia da consciência.

No desenvolvimento da personalidade, essa separação é legítima e a consciência se organiza através do ego configurando as atitudes (extroversão e introversão) e as funções de orientação (as quatro funções). Uma das atitudes, bem como uma das funções, se estabelecem de forma predominante na consciência e são conhecidas como função superior (extrovertida ou introvertida) tendo como oposição no inconsciente a função inferior (introvertida ou extrovertida dependendo da configuração).

Na tipologia junguiana existem quatro funções de orientação do ego. A sensação, é a função da percepção do real e nos diz que algo existe; o pensamento, é a função racional que nos diz o que esse algo significa estabelecendo uma ordem lógica; o sentimento, nos dá a importância desse algo e estabelece de forma racional a hierarquia de valor; a intuição é a função perceptiva que nos diz a ordem temporal de onde vem e para onde vai esse algo e quais as suas possibilidades. Enquanto a sensação é a função perceptiva do concreto e objetivo, a intuição é a percepção subjetiva do objeto que capta suas possibilidades futuras.

A adaptação do indivíduo se dá na medida em que uma das funções é melhor diferenciada servindo como ponto de apoio à consciência. Nesse movimento a parte excluída e rejeitada forma a função inferior juntamente com a sombra e os complexos afetivos (inconsciente pessoal). Dependendo da separação entre as duas instâncias (consciente/inconsciente) é formada uma dissociação que estabelece um conflito de intenções. Assim, o fluxo da energia vital do inconsciente fica prejudicado e o processo da vida pode paralisar a realização do símbolo que é a transformação do instinto em imagem, do inconsciente em consciente.

Por que escolhi o eixo intuição/sensação?

Esse eixo chamou-me mais a atenção devido ao aparecimento de sintomas corpóreos ou psicossomáticos.

O que pude observar é que quando a função superior se configura como a função intuição de forma unilateral, extrovertida e excessiva (inflacionada), parte da dinâmica da psique fica prejudicada por ficar muito presa às imagens, às fantasias, às idéias, perdendo a base e o terreno concreto. Assim, o indivíduo não presta atenção ao cotidiano, às coisas da vida presente, não presentifica a experiência; somente aqueles que obedecem a ordem interior da relação com o instinto conseguem transformar um sintoma corpóreo.

A função intuição é importante para as percepções subjetivas, mas a sensação é igualmente importante para a concreção e presentificação dessas percepções. O mundo da intuição é necessário, mas sem obscurecer sua função oposta que é a sensação.

A organização da psique se dá dentro de uma dinâmica de opostos conhecida como movimento enantiodrômico. Uma atitude não pode ser muito unilateral porque sua compensação oposta tenderá a ter a mesma magnitude, assim, um excesso de intuição na função superior irá constelar um excesso de sensação na função inferior. O ser humano é biopsíquico e sua tendência é caminhar para a totalidade num movimento de auto-regulação compensatória.

A energia psíquica parece ter uma direção que se constitui num processo. A consciência é parte do processo e obedece um movimento de auto-realização. Atinge sua plenitude no desenvolvimento das funções e tem seu perigeu na morte. A consciência nasce do inconsciente, a partir do self, e o ego como seu representante tem a necessidade de retornar a esse centro. O breve espaço de tempo da consciência parece obedecer um movimento de auto-realização e retorno ao self.

Consciencia

Esquema I - O desenvolvimento da Consciência

A vida tem um sentido, isto é, a realização do self (si-mesmo). Por isso, o ser humano deve procurar estar aberto ao novo que se desenvolve, sem contudo esquecer sua base processual histórica - a base instintiva.

De onde vem a energia psíquica e para onde ela vai?

A experiência demonstra que o self é o centro motor e emanador da energia vital do processo. A consciência desdobra-se a partir desse centro, desenvolve-se (com as formas de ser no mundo = 4 funções e as atitudes de extroversão e introversão), estabelece-se por um período na função superior (a de melhor desempenho), sofre as vicissitudes da vida na transformação das funções (função inferior e funções auxiliares) e mergulha novamente no inconsciente. A transformação é o girar da roda tipológica em direção à totalidade. Aqui podemos traçar um paralelo com o mito Cristão onde Deus cria o homem para este experienciar a existência e no final voltar a Deus acrescentando a Este o valor destas vivências.

Uma paralisação excessiva na função superior pode cortar a possibilidade do processo seguir seu curso.

Como isto acontece?

Após o nascimento da consciência, esta mantém uma conexão com o self, o centro vital - as raízes biológicas e instintivas animais. Se esta conexão é, por razões de sobrevivência, impedida (ficando unilateralizada na função superior, identificada com a persona) a probabilidade do organismo adoecer é muito alta porque desconecta-se do centro emissor.

A problemática do desenvolvimento da consciência humana provavelmente se configura nesse território pois num primeiro momento, na formação do ego, este tem de ir para bem longe do inconsciente, do instinto, da mãe, do corpo biológico, da terra, do primitivo ocasionando com esse movimento o perigo da ruptura do centro vital. O que corrompeu Adão, talvez, tenha sido a vontade de ser Deus!

A escolha do eixo intuição/sensação se deu pelo fato de entender que a intuição é uma excelência da consciência (provavelmente associada ao pensamento e à razão) e é o que faz de fato a diferença entre o animal e o humano. Nesse sentido ela está mais propensa à hybris, perdendo a conexão com a função sensação, a função da percepção dos sentidos. A função sensação parece estar muito mais próxima aos instintos, à terra, às sensações corpóreas, ao aqui e agora e à relação perceptiva fundamental da presentificação da experiência. Se a função intuição for a superior e, se esta estiver em excesso a ponto de se desconectar das raízes básicas do self, a sua função oposta sensação será sombreada e mantida no inconsciente. Assim, a possibilidade de acontecer um movimento contrário é muito acentuada. Uma cisão entre as duas funções pode propiciar e facilitar uma dissociação e um conflito na relação ego-self favorecendo o surgimento dos sintomas corpóreos.

Esse movimento vai direcioná-lo para baixo, para os instintos. Sendo a função sensação inferior a percepção dos sentidos do corpo, pode ficar prejudicada, por se encontrar no inconsciente associada às sombras e aos complexos. A função intuição tem maior afinidade com as imagens, enquanto a sensação com os instintos. Uma puxa para baixo, e a outra para cima. A ânsia de diferenciar o humano do animal pode gerar a separação e a desconexão com o instinto, com o biológico. Um favorecimento do espectro psíquico em detrimento ao físico, despotencializa o biológico que pode adoecer, justamente para expor o pólo que precisa de cuidados na tentativa de equilibrar o sistema psicofísico.

O conflito pode gerar uma paralisação na relação ego-self e o sintoma corpóreo pode ser um sinal indicador da necessidade de desenvolvimento da função inferior sensação.

A consciência parece acontecer sincronicamente no físico e no psíquico pois é um sistema que abarca duas categorias, sendo uma de manifestação somática, através das sensações fisiológicas, dos dados biológicos, dos instintos, e outra, de manifestação psíquica, através de idéias, pensamentos, sentimentos, imagens e intuições. Quando as manifestações se configuram excessivamente na parte psíquica do espectro, um desequilíbrio pode acontecer e o movimento tende a compensar para a parte física tentando assim provocar o equilíbrio entre as manifestações ou funções.

Consciencia

Esquema II - A Consciência

Conforme minhas observações clínicas, a unilateralização de uma função (no caso relatado: a função superior intuição extrovertida com sua contraparte, a função inferior sensação introvertida) pode gerar uma perturbação no sistema psíquico levando ao aparecimento de sintomas corpóreos como compensação a esse excesso.

Os conceitos de intuição, sensação, sentimento e pensamento dão margem a in£meras questões ainda não resolvidas na interação psicofísica. O pensamento em sua base é a intuição e o sentimento está atravessado pelas sensações. Parece que qualquer função tem subfunções que podem se manifestar via função superior ou estar associada a esta. Fala-se de intuição dos sentimentos ou nos pensamentos resultantes das intuições. O sentimento confunde-se com percepção sensorial tais como as propriocepções e sensações táteis. Provavelmente o sentir teve conotações táteis no desenvolvimento da espécie.

Acredito ser pertinente esse tipo de confusão devido às implicações dos fenômenos psicofísicos. Os afetos, são as expressões fisiológicas dos dinamismos primordiais das reações inatas e instintivas evocando as emoções. A emoção é uma mensagem do sistema nervoso autônomo para o neo-córtex ou sistema límbico. é uma mensagem indiferenciada que traz a consciência corporal. A função sensação juntamente com a função sentimento nos traz a consciência das emoções, organizando-a, classificando-a e discriminando-a no nível da psique.

Na minha pesquisa, constatei os biotipos constitucionais que privilegiavam os aspectos físicos da organização da consciência, mas não levavam em consideração o fenômeno psíquico da relação. Numa revisão bibliográfica sobre o assunto, constatei que Jung parece ter sido o £nico pesquisador que tentou juntar os dois lados através da questão do arquétipo psicóide (a parte física do arquétipo) e das funções psicológicas.

O self quer viver sua experiência na vida e quando esta incorporação não é feita de forma voluntária, manifesta-se de maneira negativa através de sintomas corpóreos. O inconsciente está no corpo e a vida instintiva é o nível principal da organização da energia vital.

O próprio Jung, parecia ter como função superior a intuição. Quando vivenciou a proliferação de imagens entre 1912 e 1919, foi obrigado a desenvolver a função sensação através do contato direto com a terra, a natureza (a construção da sua famosa torre, o rachar lenha, o cozinhar sua própria comida, esculpir a pedra e plantar suas batatas). A atividade física tinha o propósito de criar um espaço para o equilíbrio da manifestação de sua intuição. Observo que outros junguianos com a constituição parecida, fizeram o mesmo em prol de sua sa£de.

Arvore Simbolica

Esquema III - A árvore Simbólica

No decorrer de minhas pesquisas, constatei que outros junguianos já haviam observado essa questão.

Mcneely aponta para a necessidade de incluir a função sensação e sentimento no estilo de vida do indivíduo para a conscientização do corpo.

Von Franz relata um caso de um intuitivo que, para seu bem estar e transformação dos sintomas corpóreos, teve de comprar uma terra e se relacionar concretamente com um cavalo afim de desenvolver a função sensação.

Woodman aponta para o fato de ter constatado que pacientes obesas estavam muito unilateralizadas na função intuição, sendo tomadas por idéias, imagens e fantasias, vivenciando a função sensação inferior como sombra no corpo obeso.

Meier igualmente aponta para os fenômenos psicossomáticos que acometem os intuitivos superiores no sentido de compensar a unilateralidade desta função.

Acredito que uma atividade física por si só não resolva a questão da função inferior, principalmente a sensação. O exercício não provoca o processo do desenvolvimento de uma função. Da mesma forma que ficar apenas no nível psíquico não propicia a totalidade da experiência de existir. O importante é desenvolver uma visão de mundo que abarque as quatro funções.

O desenvolvimento de uma atitude frente à vida que não reprima uma função, favorece provavelmente o equilíbrio entre as duas instâncias. é necessário abarcar os dois lados do espectro, o físico e o psíquico. O símbolo é reconhecido tanto pelo seu efeito sobre o sentimento quanto pela sua impressão sensorial, seu significado intuitivo e ideacional. Assim, é possível articular uma postura de busca da sa£de onde o sentimento deva estar presente na inserção e pertinência a um grande sistema; a sensação possa ser experienciada na percepção do universo e sua interrrelação dinâmica entre o referencial biológico e psíquico; onde a visão de mundo através das perspectivas futuras estejam inseridas nas percepções subjetivas da intuição onde matéria e espírito se relacionem de forma dinâmica e o pensamento possa articular e organizar de forma coerente essa visão de mundo.

Sintoma, símbolo e sincronicidade nos remetem à junção de duas instâncias que acontecem sincronicamente, isto é, ao mesmo tempo: o paralelo psicofísico.

Como ilustração, apresento o caso clínico de um homem de 40a. em plena crise da meia idade (metanóia) com sintomas corpóreos. Sua queixa reporta-se ao problema do corpo, como algo incômodo e sofrido. Em linhas gerais ele não queria saber das sensações corpóreas por razões de defesa da consciência (complexos) e a £nica forma encontrada para presentificar sua experiência na vida foi o sintoma físico.

Suas queixas quando da primeira consulta eram: cefaléias periódicas, zumbido no ouvido, dores cervicais, dores no peito, dores variadas no corpo todo, dificuldade de sono, ang£stia e depressão, perda do sentido da vida, pânico. "A vida está um tormento e não tem sentido" (sic). Foram feitos exames clínicos que nada constataram a nível orgânico e durante um período recebeu assistência médica concomitante, primeiro alopática tomando antidepressivos e depois homeopática com medicamentos de fundo.

Os sonhos indicavam que ele precisava prestar atenção à natureza instintiva e corpórea. Sua visão de mundo não dava conta de suas questões primordiais pois sua atitude era incoerente com sua interioridade. Privilegiou um lado em detrimento de outro (intuição x sensação). A relação terapêutica durou cerca de três anos e a transformação dos sintomas demonstrou a diminuição da defasagem entre as duas funções (através do trabalho com os sonhos e a utilização da imaginação ativa). Os aspectos sombrios foram sendo integrados com grande dificuldade; sua persona passou a atuar de forma satisfatória e sua relação com a imagem feminina interior tornou-se mais funcional e menos complexual. Os valores do universo feminino foram incorporados na medida em que ele se permitia sentir e perceber o mundo das sensações de forma fluida. O paciente conseguiu ouvir o inconsciente e seguir sua linha de conduta em direção ao processo de desenvolvimento. A sua identidade pôde ser reconhecida a nível corpóreo. Houve uma mudança em sua visão de mundo.


Paulo S. Ruby, psicólogo clínico
Psicoterapeuta junguiano há l8 anos, Doutorando em Psicologia Clínica -Núcleo de Psicossomática (PUCSP), professor de psicologia junguiana e psicossomática (Instituto Junguiano da Bahia (IJB) e Instituto Brasileiro de Estudos Homeopáticos (IBEHE-SP).
Rua Kansas, 306 - tel/fax: 543-3455 - 04558-000 - São Paulo - Brasil/ e-mail: This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.

i. Mcneely, D. - Touching, Toronto; Inner City Books: 1987.

ii. Von Franz, M.L. - Psychotherapy, Boston, Shambhala: 1993.

iii. Woodman, M. - A Coruja Era Filha do Padeiro, São Paulo; Cultrix: 1991.

iv. Meier, C.A. - the Psychology of C. G. Jung, 4 volumes, Boston; Sigo Press: 1989, 1990 and Switzerland; Daimon-Verlag: 1995.

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